O estado do Amazonas, conhecido por sua vasta extensão territorial e pela presença de comunidades isoladas às margens dos rios, conta hoje com uma das mais importantes iniciativas de saúde itinerante do Brasil: os barcos hospitais. Um dos principais destaques dessa iniciativa é o Barco Hospital São João XXIII, embarcação que representa um marco na assistência médica às populações ribeirinhas da região.
Com quatro andares e uma estrutura hospitalar de ponta, o barco foi oficialmente entregue em dezembro do ano passado, com o objetivo de descentralizar os serviços de saúde de média complexidade e garantir atendimento médico de qualidade a quem vive longe dos centros urbanos. Desde então, já foram realizados mais de 15 mil atendimentos, número que reforça a importância da embarcação para a saúde pública do estado.
O projeto do Barco Hospital São João XXIII surgiu a partir de uma provocação do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude em 2013. Ao visitar um hospital no Rio de Janeiro, o pontífice perguntou ao fundador da Associação Lar São Francisco, Frei Francisco, se a entidade já atuava na Amazônia. A resposta negativa desencadeou a missão: levar saúde até os confins da floresta, por meio de um hospital flutuante.
Inspirado pelo sucesso do primeiro Barco Hospital Papa Francisco, o São João XXIII foi desenvolvido para atuar especificamente no Amazonas. Sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e com apoio da igreja católica, a embarcação realiza duas expedições por mês, com duração de uma semana cada, atendendo até 200 pessoas por dia.
O São João XXIII conta com 14 leitos — sendo 10 para internação e 4 para recuperação pós-anestésica — e três salas cirúrgicas. Os atendimentos vão muito além das consultas médicas básicas: há especialidades como oftalmologia, odontologia, exames de imagem (mamografia, ultrassonografia, eletrocardiograma e raio-x), laboratório próprio para análises clínicas e até cirurgias por vídeo e endoscópicas.
A estrutura ainda inclui farmácia hospitalar, enfermaria, triagem, cozinha, banheiros e salas administrativas. Tudo isso com o apoio de cerca de 80 profissionais voluntários, entre médicos, enfermeiros e técnicos de diversas áreas da saúde.
Em casos de urgência ou remoção, o barco conta com duas ambulanchas, que fazem o transporte de pacientes para locais com infraestrutura hospitalar mais complexa.
Além da assistência médica, o projeto também reforça o compromisso ambiental. A embarcação possui um moderno sistema de tratamento de esgoto, que garante o descarte adequado dos resíduos e reduz o impacto no ecossistema local. Práticas sustentáveis são adotadas para minimizar a emissão de poluentes, alinhando saúde e responsabilidade ambiental.
Segundo a secretária da SES-AM, Nayara Maksoud, o barco hospital simboliza um avanço na política pública de saúde do estado: “Essa ação reflete a intenção de transformar o acesso à saúde em algo real e contínuo para quem vive nas regiões mais distantes”.
O projeto também carrega um forte componente social e religioso. A Associação Lar São Francisco, responsável pela iniciativa, acredita que o barco vai além de um equipamento médico: ele leva “amor, cuidado e dignidade” para uma população historicamente negligenciada.
E não está sozinha. Outras instituições religiosas também desenvolvem trabalhos semelhantes na região, como a Igreja Presbiteriana de Manaus, que também opera um barco com atendimento médico itinerante.